Quanto tempo tenho?

Quanto tempo tenho?

Senhor tempo, tenho contas para ajustar contigo.

Quando eu era pequena você passava tão tranquilamente. Posso lembrar disso por causa do Natal. Como você demorava entre um Natal e o outro. Nossa, eu lembro do ano que eu queria a boneca Bem Me Quer. Minha mãe falava que era muito cara, e que só dava para o Papai Noel trazer! Até que eu era uma boa menina, entendia e não retrucava muito. Mas você, poxa, não me ajudava em nada, quase parava, e o Natal nunca chegava!

Na adolescência lembro das aulas de matemática intermináveis! O ponteiro do relógio não saia do lugar, eu ficava bem invocada com você! Achava que era algo pessoal! Ah, se eu soubesse como você era meu camarada naquela época.

Lembro de calmos e longos momentos voltando da escola a pé com a minha melhor amiga, de conversas intermináveis na rua com os meus amigos do condomínio, de beijos longos e apaixonados na porta de casa, papos intermináveis no telefone, finais de semana deliciosos e cheios de amor na casa dos meus avós, de deitar na barriga da minha mãe e ficar ali com ela, assistindo TV e conversando.

Mas acho que como não te dei valor e sempre te criticava por ser lento demais, você decidiu passar voando. Te sinto escorrendo como água pelas minhas mãos. E eu tenho tenho tantos sonhos!

O senhor anda passando tão rápido que meus avós já se foram; quando encontro minhas amigas que moram longe, peço em silêncio para o senhor ir com calma, mas como está zangado comigo passa voando; meus pais já tem mais de 60 anos, eu amo estar com eles e você, ah você continua acelerando. Poxa, não acha que já está sendo vingativo demais?

E agora senhor tempo, eu sou mãe, e meus filhos tem crescido como capim. Isso me angustia muito! Eu não quero que o senhor passe rápido, nem pelas coisas chatas de ser mãe. O senhor entendeu? Eu não quero que você se adiante. Quero que o senhor passe lentamente para que eu possa lembrar, lá na frente, do cheirinho que eles tem, do som da voz, e das coisinhas bonitinhas que eles me dizem. Me deixa viver isso com tranquilidade, por favor?

Por tudo isso, escrevo para te pedir minhas mais sinceras desculpas, sei que não fui uma boa amiga, mas prometo que aprendi a lição e vou agradecer imensamente se você for com calma o suficiente para eu poder ter você até para sentir saudades deles pequenos. Sei que vai doer e eu vou chorar mas, definitivamente, eu aprendi a lição e valorizo ter você sempre, nas coisas boas e nas ruins também. Por favor, fica! Porque quem tem você, senhor tempo, tem tudo!

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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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