Brinquedos condizentes com a idade

Brinquedos condizentes com a idade

Achei excelente esse texto que li no site antroposofy,e que foi extraído de M. Glöckler e W. Goebel, Consultório Pediátrico – um conselheiro médico-pedagógico, trad. Sonia Setzer, São Paulo: Editora Antroposófica.

Adoro a frase que diz: “Brincar é o trabalho da criança.” O brincar deve ser levada muito a sério pelos pais, para que seus filhos possam se desenvolver através de uma boa brincadeira.

“Na verdade, o brinquedo adequado é todo objeto que desperta uma atividade intensa na criança, representando tão pouco por si mesmo que ela possa equipá-lo com sua imaginação e determiná-lo sempre de outra maneira.” 

No início da vida a brincadeira é, principalmente, exercício dos sentidos e imitação. A oferta e a escolha de brinquedos adequados representam hoje um verdadeiro problema. As crianças são literalmente soterradas sob um monte de brinquedos industrializados sofisticados, considerados especialmente adequados para ela. Entretanto, quem já observou uma criança brincando, mergulhada em seu próprio mundo, constata quão pouco essa atividade está relacionada com essa oferta de brinquedos.

Brincar é a tendência de a criança tornar-se ativa em seu ambiente. Ela faz o que vê os outros fazer. Com dois anos de idade, mexe entusiasmada com um pauzinho no chão e cozinha uma sopa, como a mãe. Tal qual esta, também quer mexer nos ‘botões’ quando ela está utilizando algum aparelho eletrodoméstico. Além disso, também quer fazer ‘clique’ quando o pai tira fotografias em sua presença. Quer examinar os pratos que, antes das refeições, fazem um barulho tão alegre ao serem retirados do armário.

Ela vivencia a realização em sua atividade, e não na contemplação de uma boneca de plástico perfeita ou de uma caricatura de um animal. Numa boneca sem rosto, ou com apenas três pontos dando a indicação da fisionomia, a fantasia infantil cria o que está faltando. A boneca ri, chora, fica zangada ou com sono. Bonecas que sorriem eternamente ou até ‘falam’ geram imagens persistentes desprovidas de veracidade, estagnando a fantasia.

Qual é, então, o brinquedo adequado? No primeiro ano de vida, por exemplo, uma boneca cuja confecção seja a mais simples possível: um pequeno retalho de seda, em cujo centro se coloca um chumaço de lã de carneiro lavada e bem desfiada depois de seca, o qual adquire uma forma redonda (a cabeça) quando envolvido com o tecido e amarrado com um fio, enquanto se dão nós nas pontas laterais, que são as mãos. Mais tarde a boneca pode ser de madeira, e pode ser deitada ou colocada em pé; depois, ainda, uma boneca de flanela macia etc. Na verdade, o brinquedo adequado é todo objeto que desperta uma atividade intensa na criança, representando tão pouco por si mesmo que ela possa equipá-lo com sua imaginação e determiná-lo sempre de outra maneira. Um dedo, no qual se possa observar os movimentos e tudo o que ele sabe fazer, pode ser um brinquedo. Igualmente a ponta de um travesseiro, a qual pode ser dobrada ou afundada. Brinquedo é uma caixinha que se abre e fecha e na qual se podem colocar objetos e tirá-los outra vez. Brinquedo também é um pedacinho de madeira com o qual se possa bater na mesa, explorando os ruídos. Mais tarde, é uma torneira ou uma tampa de garrafa, com a qual se possa pegar água e criar um lago; também uma panela na qual se batuque com uma colher de pau é interessante, ou uma bola colorida de tricô recheada com lã de carneiro, que possa ser empurrada, jogada ou embrulhada; pequenos panos coloridos, com os quais se possa cobrir e novamente descobrir todo tipo de coisas.

Por que é tão importante que o pai, a mãe, os tios e os avós dêem de presente bons brinquedos? Porque os brinquedos habituais, perfeitos, inventados para as crianças, não deixam espaço para a imaginação infantil. Além disso, o material, as cores e as formas da maioria deles geralmente pecam contra o sentido de realidade e contra a sensibilidade estética. As requintadas possibilidades de movimento e os efeitos luminosos dos brinquedos técnicos fazem da criança uma mera espectadora, em vez de colocá-la em atividade. Na brincadeira, trata-se de dar à criança a possibilidade de desenvolver sadiamente seu corpo pela atividade própria e pela fantasia livre e criativa. Em sua obra A educação da criança segundo a Ciência Espiritual, Rudolf Steiner diz o seguinte:

… a criança não aprende por instrução, mas por imitação. E seus órgãos físicos adquirem forma pela influência do ambiente físico. A visão se desenvolve sadiamente quando existem no ambiente da criança fenômenos apropriados de luz e cor; no cérebro e na circulação sangüínea formam-se as disposições para um sentido moral sadio, desde que a criança perceba em seu ambiente fatos morais. Se antes da idade dos sete anos a criança vê ao seu redor somente atitudes tolas, o cérebro adquire formas tais que a capacitam apenas para tolices na vida posterior (…) Se os homens pudessem olhar, como pode fazê-lo o pesquisador espiritual, para dentro do cérebro empenhado em estruturar suas próprias formas, com toda a certeza só dariam a seus filhos brinquedos suscetíveis de avivar as forças plasmadoras do cérebro. Todos os brinquedos que possuem apenas formas mortas e matemáticas destróem as forças plasmadoras da criança, enquanto tudo o que faz surgir a idéia da vida atua de maneira sadia.

A correlação entre atividade corpórea sensata e habilidade com formação das estruturas cerebrais é conhecida há tempo. O melhor tratamento de distúrbios da fala e dislexia é feito com exercícios de habilidade, equilíbrio e orientação espacial, bem como, de maneira geral, com o treino das atividades sensórias com materiais adequados.

Pontos de vista desse tipo, favoráveis ao desenvolvimento da criança, muitas vezes são opostos aos interesses comerciais e à conquista de novos mercados de consumo no âmbito infantil. Se as famílias chegarem por si mesmas a reconhecer o que fortalece as crianças, pode-se prevenir falta de imaginação, de vigor anímico-espiritual e vazio interior. Atualmente, alguns pais já perguntam se uma causa importante da dependência de drogas, tão difundida hoje em dia, não reside no fato de a criança, desde pequena, ser educada para ser dependente de aparelhos ‘interessantes e entretenedores’, não encontrando espaço para desenvolver uma atividade própria satisfatória e uma ocupação com o meio circundante.

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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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