Casa Verde, adeus e muito obrigada!

Casa Verde, adeus e muito obrigada!

Você deve estar vendo uma humilde casa verde com chão de mosaico. Mas eu vejo mais, muito mais…as memórias começam a pipocar na minha cabeça.
Eu vejo uma casa que foi palco da minha infância. Casa com balanço no quintal que ia muito alto e dava aquele frio na barriga, casa que no jardim da frente tinha trevos de quatro folhas, casa que tinha almofadas de seda geladinhas e deliciosas de se deitar, casa que tinha a cozinha mais aconchegante do mundo, casa em que eu comi muitos bifes acebolados e o famoso bacalhau da minha avó, casa que meu avô sempre tirava um cochilo no quintal em uma cadeira de praia após o almoço.
Tinha a casa dos fundos, o banheiro perto da cozinha, ar-condicionado que fazia um barulho delicioso no quarto que eu dormia com os meus pais quando ficávamos lá, a escada da frente em que passávamos horas sentados e jogando conversa fora, a oficina do meu vô cheia de tralha e sua inseparável bicicleta. Tinha também o corredor lateral, tinha o porão que era lugar certo das brincadeiras com meus primos enquanto os adultos passavam horas sentados na mesa comendo, bebendo e conversando, e, finalmente, o portão da frente, que me vô se colocava todo pomposo e bonitão conversando com os conhecidos que passavam, cheio de orgulho daquele lugar que ele construiu com muito suor e trabalho.
Meus avós faleceram, a casa foi vendida, e saber que ela estava ali era algo que acalmava o meu coração, como se parte  dos meus avós ainda estivesse viva. Mas esse verão o comprador decidiu colocar a casa abaixo. Passei lá e vi que estavam destruindo tudo. Tive a idéia de pegar uns pedaços do chão de mosaico para fazer algo. Bobagem? Pode ser, mas sei lá, é essa coisa que a gente tem de guardar lembranças materiais, uma lembrança que seja. Essa “herança” de guardar coisas a minha vó Maria me deixou. Ela adorava guardar lembranças e eu adorava ver e escutar suas histórias. É muito difícil se desprender, ver a casa mais importante da sua vida ir abaixo e não levar nada. Fui lá e vi um trator destruindo aquilo que era um símbolo de família, trabalho, perseverança e amor para mim. Chorei muito! Peguei o que queria pegar. Percebi que tanto os caras que estavam demolindo a casa como as pessoas que estavam passando por ali sentiam muita pena de mim. Perguntavam se eu precisava de algo e alguns até ajudavam a tirar a poeira para eu poder ver o piso de mosaico. Mas acho mesmo que foi de dar pena. Eu tinha vontade de gritar, pedir para pararem e, eu mesma, colocar tudo no lugar, tudo como meus avós deixaram.
Mas lembrando do meu avô ali no portão todo pomposo e orgulhoso, hoje consigo entender. Um cara que saiu de Portugal literalmente sem nada ou com tudo, depende do ponto de vista. Afinal não tinha nada financeiramente, mas tinha toda a vontade do mundo de arregaçar as mangas e trabalhar. Chegou por aqui, trabalhou a vida toda como estivador no Porto de Santos, não era para sentir muito orgulho mesmo? A casa era sim motivo de muita alegria, mas o motivo de orgulho, com certeza, era a família…filhos, genros, nora, netos e depois os bisnetos reunidos. Porque no fim é só isso que importa na vida. A casa era o cenário, mas o que vivemos ali é o que fica, é o que carregamos com a gente pra sempre! Saudades boa de sentir Vô Abel e Vô Maria, muita gratidão pela melhor herança que vocês podiam nos deixar que são as doces lembranças.
Casa Verde, adeus e muito obrigada!
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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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