Camila Verjus – mãe fora da caixa parisiense

Camila Verjus – mãe fora da caixa parisiense

Estamos adorando receber as histórias das nossas leitoras. Hoje o post vem de longe, lá da França, a querida Camila mora em Paris, tem dois filhos pequenos e nos conta um pouquinho da sua vida, rotina e curiosidades como uma típica parisiense.

Uma delícia de post! Obrigada Camila! Bisou

“Leonina, turismologa, com 35 anos e 2 filhos franco-brasileiros, Henri com 4 anos e meio e Louis que completará 1 aninho agora dia 11 de março.

Sim, antes de ter 35 anos e 2 filhos, ja era turismologa, rsrsrsrs, ja deu pra entender que também não consegui largar a profissão depois de ser mãe, né?!

Nasci em Brasília, e com 10 anos minha família e eu nos mudamos para Bragança Paulista, no interior de SP, com 18 para a capital paulistana, onde me formei em Turismo e em seguida fiz meu mestrado, e depois fui trabalhar em Araraquara, também interior de SP. No meio disso tudo um casamento com começo, meio e fim. Talvez sem “meio”, pois não tivemos filhos, e a 27 anos retornei para São Paulo, virando uma grande pagina da minha vida. Morei sozinha, tive amores “tapa-buracos”, mas não acreditava mais no amor verdadeiro, achava que era coisa de adolescente, e ja estava me conformando em não ter filhos, seria apenas uma mulher independente e, bem sucedida profissionalmente.

Sempre trabalhei com turismo, passei por agências de viagens, operadoras, cia aérea, lecionei em 2 universidades, trabalhei com turismo corporativo e nos ultimos tempos estava meio contrariada que meu trabalho estava sendo mais administrativo que turistico, e a cada brecha que tinha ia viajar, fugia do escritorio, me dava uma agonia ver a vida passar pela janela da minha sala da empresa. Estava com o coração apertado, até que decidi ir visitar uma amiga da época da faculdade que estava morando nas ilhas Canarias e passamos uma semana incrível, trocamos segredos, fiz novos amigos, meditei e depois dali, minha vida foi se encaixando como eu sempre acreditei no fundinho de mim mesma, apesar de não imaginar que viveria praticamente um conto de fadas, e mais uma grande virada de pagina na minha vida!

Um dos amigos que fiz nesta viagem à Canarias é francês e morava em Paris e eu ainda não conhecia a capital francesa, então combinei com 2 amigas, sendo uma delas a que mora em Canarias, de irmos juntas conhecer a cidade e nosso anfitrião foi …. Carpe Diem…. so lembro disso antes do nosso primeiro beijo, dali 2 meses ele foi para o Brasil num cavalo branco, ops, quero dizer num avião branco, e 3 meses depois estavamos nos casando em PARIS!!! Tive direito até a festa em um castelo no interior da Bretanha no verão. Tudo magico! E vi que o amor poderia ser simples, leve, verdadeiro e o que eu poderia querer mais… uma surpresa, estava grávida.

Pânico, não falava francês fluentemente ainda, tinha medo de não entender o que a parteira “sage-femme”, iria me dizer para fazer na hora do parto, aqui na França a possibilidade de se fazer uma cesariana é praticamente zero! Eles contam 2 semanas a mais que no Brasil, aqui são 40 semanas e dependendo deixam até 42 e eu morria de medo desse tempo todo do bebê na barriga, enfim o Henri nasceu de parto normal, com 37 semanas entre “push” e “poussez”.

Aqui na França a criança pode ir para a creche a partir de 10 semanas de vida, 2 meses e meio, porém conseguir uma vaga é praticamente impossivel, existem as creches da prefeitura e as privadas, todas pagas com mensalidades baseadas em um calculo do salário dos pais, entre 300€ e 600€ por mês incluindo alimentação e fraldas, periodo integral. E a partir do maternal, 3 anos, a escola publica é aberta à todas as crianças gratuitamente, e aos 6 anos o ensino é obrigatorio, porém pode-se inscrever a criança na escola pública ou privada ou até mesmo ensinar em casa, sendo desta forma as crianças expostas a exames no final do ano letivo para acompanhamento.

A escola começa as 8h45 e termina as 16h, com uma pausa para almoço que pode-se ir buscar a criança para almoçar em casa ou pagar mensalmente a cantina da escola por menos de 5€ ao dia. Acompanho o cardapio pela internet, e sempre é elaborado com uma entrada (legumes e verduras), prato principal (sempre acho extremamente elaborado com molhos que nem conheço), depois um pedacinho de queijo (para garantir o calcio) e uma sobremesa (geralmente frutas de epoca ou um flan). Hoje por exemplo, o cardapio sera: salada de grão de bico, prato principal frango com molho de paprica e salsinha acompanhado de purê crécy (voilà, não tenho ideia do que seja “crécy”), queijo sera brie, e mexirica. Também pode-se optar para buscar as 16h30, sendo que a criança faz 30 minutos de recreio a tarde, ou senão a partir das 17h até as 18h30 e dai a criança lancha na escola e você paga o lanche (que também esta’ na internet: pão com manteiga e geleia, e compota de frutas) e paga este horario extra de recreação. O bom que esta agenda de horarios é flexivel, na chegada de manhã a escola, você marca que horas ira busca-lo, se saira as 16h, 16h30 ou apos as 17h.

As crianças possuem férias de 2 semanas a cada 8 semanas de aula, resumindo, 1 mês e meio de aulas e um break de 2 semanas, e depois férias de verão nos meses de julho e agosto. Que pais que aguentam acompanhar tantas férias?!?! A grande marioria das crianças são acostumadas a irem para a casa dos avos desde cedo, ficando 1 ou até mesmo as 2 semanas completas por la. Assim as aulas começam em setembro e final de outubro férias, natal e reveillon férias, fevereiro férias de inverno (os pais costumam tirar pelo menos 1 semana de férias neste periodo para levar os filhos esquiarem nos Alpes), abril férias da primavera e depois chegam as férias de verão, sendo que julho as crianças ficam com os avos ou nos centros de lazer (na propria escola vão diariamente para brincarem e fazem excursões, e nos pais so sabemos que levaram nossos filhos para aquarios, piscinas, quando eles nos contam no final do dia de volta pra casa _ a escola considera que não precisa pedir permissão aos pais para sairem com seus filhos, isso me da uma certa apreensão!) e no mês de agosto os pais tiram férias com seus filhos e pode-se encontrar varias empresas fechadas em Paris neste periodo como alguns correios, padarias, pequenas empresas, pois acreditam que é o mês para se aproveitar o sol, recarregar as energias, então praticamente tudo que é administrativo para neste periodo do ano. Mês do meu aniversario, pleno verão, adoro! J

O bebê na creche também possui horarios a cumprir, a creche abre as 7h30 e fecha as 19h, podendo chegar até as 10h e busca-lo a partir das 15h30, para não atrapalhar os horarios das refeições e o soninho da tarde.

Voltando para minha vida profissional, eu continuava com contatos no Brasil e alguns clientes voltaram a solicitar meus serviços de agente de viagens e até mesmo de guia na capital francesa e foi em 2011 que abri minha empresa (ParisViagem.com) onde trabalho com turismo receptivo em Paris e Londres. Os serviços foram aparecendo aos poucos, e hoje sou mãe, mulher e guia em Paris para brasileiros. Consigo conciliar minha agenda com a dos meus filhos graças a possibilidade de ficarem periodo integral na escola quando estou nas ruas e meu marido que trabalha perto de casa, e claro também da escola, passa busca-los.

Semanalmente levo o Henri nas aulas de esgrima e judo, além de diversas vezes acompanha-lo nas excursões da escola ao teatro, zoologico, aquario, circo… (a profesora sempre manda um bilhetinho no caderno perguntando se tem alguma mãe e/ou pai disponivel para ajuda-los a acompanhar as crianças que fazem os passeios a pé ou em onibus).

Ja tive experiências de trabalhar como funcionaria de empresas de turismo receptivo aqui em Paris, mas hoje prefiro ter minha propria agenda, assim consigo estar presente por mais tempo ao lado das crianças que ainda são pequenas, e o crescimento deles passa tão rapido…

Claro que a vida não é so um conto de fadas, diferenças culturais, e educacionais me fazem entrar em conflitos. Os franceses adoram enquadrar seus filhos e netos, as crianças devem obedece-los e sem discussão, e ja na nossa cultura brasileira somos mais flexiveis, casa de vo’ é diversão, mas aqui vo’ põe criança de castigo. Eu costumo dizer que uso uma pedagogia diferenciada, por exemplo, não falo “Henri va’ tomar teu banho!” como uma ordem, como os franceses (o pai) fazem, eu ja pego na mão dele e vou direcionando para o banheiro, tirando a roupa, e conversando do dia na escola e ele nem se da conta, e toma o banho sem escandalos e reclamações. Para os franceses isso não é correto, ele tem que aprender a cumprir ordens e ser independente o mais cedo possivel. Ja euzinha, confesso que gosto bem de mima-los enquanto estão debaixo das minhas asas, muitos beijos, abraços, brincadeiras, complicidade, e um dia quando eles partirão e so tenho um desejo: que eles sempre tenham prazer e vontade propria de voltar vir me visitar e passar alguns momentos comigo, que não sejam “obrigados” a dar uma passadinha. Para mim esta historia de independencia precoce dos franceses leva as familias a não terem um forte vinculo afetivo, vejo aqui muitos idosos em asilos, ou morando sozinhos sem familiares por perto, netos que não visitam os avos. Não gosto disso!

No caminho da vida, vim parar do outro lado do oceano, mas sempre que podemos vamos ao Brasil passar bons momentos com meus familiares e amigos. E as crianças aproveitam muito toda esta experiencia existencial, o Henri ja é bilingue por conta das nossas viagens, Skype, Facetime, e em casa falo português e o pai francês.

Nosso melhor ponto em comum, meu marido e eu, é que adoramos viajar, pegar o carro e pé na estrada. Confesso que tenho sorte de ter filhos calmos e assim foi mais facil acostuma-los desde pequenininhos. Ja fizemos 1mil km em 1 dia (algumas vezes), ja fomos para o Marrocos quando nosso filho tinha 10 meses (ele foi conosco). O Henri ja conhece 14 paises e o Louis 7, e nossas proximas férias da primavera, States aqui vamos nos, os 4 juntos! Meu pai sempre dizia: “Caixão não tem gaveta! Desta vida não se leva nada material! Viva a vida, que conhecimento e descobertas levamos para a eternidade!” Como hoje moro em um pais estavel, com boa qualidade de vida, consigo oferecer estas experiencias aos meus filhos.

E antes de fechar os olhos no final do dia me pergunto: Para qual canto do mundo, a roda da vida levara minhas duas vidinhas?

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Curiosidades de ser brasileira e viver entre franceses:

Se você inscrever teu filho em uma escola ou creche publica, você não pode escolhe-la, sera a mais proxima da tua casa. Aqui fazemos muita coisa a pé, como ir à escola, farmacia, mercado (todo mundo tem o seu carrinho “caddie”) e vamos semanalmente para comprarmos produtos frescos, pediatra, nada do outro lado da cidade, são praticos, francos e com uma boa qualidade de vida.

Ah por exemplo, festinha de aniversario na creche so pode-se levar bolos, bolachas e sucos industrializados, nada feito em casa, por causa de riscos de intoxicação dos bebês.

As crianças francesas geralmente não tomam banho todos os dias. A pediatra me disse uma vez que a agua daqui resseca muito a pele, e por isso banho todo dia não é bom. Ah pelo amor!!! É so passar um creminho, né!?

Meu filho está aprendendo na escola maternal como as pessoas viviam na Era Medieval, todo o ano letivo esta’ sendo desenvolvido em torno deste sujeito com castelos, cavaleiros, catapultas, é isso mesmo, com 4 anos meu filho voltou outro dia da escola me explicando o que é e pra que serve uma catapulta!!!

Uma vez uma vizinha se ofereceu para ficar com meu filho que tinha na época 1 ano e meio para que pudéssemos fazer a mudança de apartamento para outro na mesma rua, apenas 500 metros de distancia. Deixei-o na casa dela as 8h, e as 13h ela me ligou perguntando se eu iria demorar para busca-lo pois o menino estava com fome. No detalhe, ela ja tinha dado almoço para os 3 filhos dela e ela também ja iria almoçar. Fiquei chocada, e instantaneamente pensei: se fosse no Brasil, minha vizinha ja teria dado almoço para o meu filho também e até posto para fazer o soninho da tarde e estaria me ligando para ir almoçar uma macarronada na casa dela fazendo uma pausa na mudança. Pois é, cada um com a tua cultura e generosidade.

Passei também por desafios durante a segunda gravidez onde os franceses são totalmente adeptos ao aborto se o exame de probabilidade de Sindrome de Down é elevada. Meu primeiro exame deu 70% de chances da doença, fui forte e determinada até o final da gravidez e meu pequeno Louis nasceu 100% normal.

Como disse outro dia no Facebook, quem sabe um dia ainda escrevo um livro…. nem que seja de culinaria! rs”

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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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4 Comentários

  1. Lucimara Machado Pires - 13 de março de 2015

    Boa tarde
    Meninas

    Amei essa história, conto de fadas, realmente, existe!!!
    Parabéns pelo excelente blog.

    Lucimara

  2. Eliete - 17 de março de 2015

    Amiga, feliz de formar parte da grande mudança da tua vida, sempre vou acreditar que tuudo é possível, fiz a viagem ao revés vamos vê se agora o cavalo branco vem me visitar kkkk beijinho te amo e amo muito ser a madrinha do Louis meu fofu

  3. tamyres - 26 de novembro de 2015

    Ainda achava o livro “Crianças Francesas não fazem manha” exagerado até ler esse relato! Muito bom. :D Acho que também vou escrever um livro com minha história hahaha. Muito bom o blog, parabéns!

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