Viagem no tempo

Viagem no tempo

Texto escrito com muito carinho para o Mãe fora da Caixa por Ana Paula Maciel que escreve o blog  Mulheres Plurais que amamos e nos identificamos muito. Ela fala sobre nossa relação com os filhos com muita sinceridade e delicadeza.

Apreciem!

“Resolvi fazer uma viagem no tempo para me reencontrar com a adolescente que fui imaginando que pudesse facilitar a recepção da nova visitante.

Encontrei uma menina cheia de perguntas, dúvidas, questionamentos. Uma menina que tinha espinhas, um corpo que eu não reconhecia direito, um cabelo que não era mais o mesmo dos tempos de criança. Tudo parecia um pouco sem jeito. Lembro bastante dessa sensação.

A criança de cabelos dourados e nariz pequeno de repente deu lugar a uma menina com nariz grande e cabelo diferente do que guardava em sua memória.

Tantos anos sendo criança e, de repente, sem pedir licença, uma intrusa parecia ter se apossado de tudo. Já não me reconhecia no espelho.

Levou um tempo para eu associar a nova imagem da menina mulher que ia tomando conta do espaço.

Algumas pessoas passam por essas mudanças sem transtorno. Não foi o meu caso.

Com as meninas “populares”, eu me sentia deslocada. Elas eram pra frentex, aparentemente livres e cheias de atitude. Eu me sentia desengonçada e distante dos assuntos que não dominava. Com as esportistas, eu me achava “empada”, termo que a professora de educação física repetia, sem medo de ser acusada de “bullying”. E eu também não reclamava. Eram outros tempos. A gente se virava. No vôlei, eu era a reserva da reserva e, honestamente, preferia assim.

Apesar de ser leitora voraz, tinha dificuldade em matemática, química e física. Não que eu fosse um espetáculo nas outras matérias. Na escola, eu passava de ano “raspando”. Isso bastava.

Passava o recreio com outras meninas que tinham questões parecidas com as minhas. Éramos poucas e nos entendíamos bem. Tínhamos educação parecida. Ainda temos.

Em casa, deixava aflorar um leão que passava o resto do dia aprisionado. Brigava com a minha mãe por nada e por tudo. Precisava me afirmar.

Hoje, voltando àquela época, vejo que só me “impunha” em casa porque precisava me sentir no controle em algum lugar.

Preciso dizer que meus pais foram sábios. Não entravam em brigas que eles próprios não consideravam necessárias. Ignoravam nhém nhém nhém. Me deram vários “se liga” e me enquadraram todas as vezes que acharam que eu estava prestes a passar dos limites.

Nunca tiveram medo de impor sua autoridade. Eram firmes e enérgicos. Não titubeavam. Não era não. Continua sendo.

Eu sabia, com clareza, quais eram os limites rígidos.

Tiveram fases mais difíceis, fases de choro, fases que eu não sabia o que queria, fases de busca. E da mesma maneira que os obstáculos apareceram, sempre tive a certeza de que minha família era um porto seguro.

Talvez fosse mais fácil educar em tempos que não existia o inimigo virtual, o whattsapp, Instagram, Facebook, jogos eletrônicos. Talvez fosse mais fácil educar em tempos sem tanto acesso à informação.

Hoje, o bombardeio de notícias acaba gerando ansiedade e, de certa forma, a obrigação de fazer alguma coisa. De agir.

Dia desses, li uma matéria sobre adolescência na Revista Época cujo título era ” Os Pais Atrapalham”.

O título pode, em princípio, parece radical, mas quando estamos vivenciando essa passagem, a sensação é de concordância. Não adianta se meter em tudo. Procurar centralizar cada passo, sentimento e emoção.

É difícil encontrar o meio termo, mas bom senso é palavra de ordem. Tem que virar mantra.

Estar perto, saber o que está acontecendo mas não “invadir” o espaço. Calar quando se tem vontade de gritar. Ser firme quando o coração está apertado. Se mostrar segura mesmo quando surgem dúvidas. Ter tranquilidade de dizer “vou pensar”, quando se é colocado num “corner” com algum pedido inesperado. Pedir para o filho ou a filha “elaborarem” porque querem isso ou aquilo ou por que razão estão agindo de determinada maneira. Ajudar os filhos a pensar amadurece e fortalece os vínculos. Ajuda o bom senso comum a se instalar.

Costumo dizer que educar não é trabalho para preguiçoso. Não é mesmo! É o trabalho mais maravilhoso e envolvente que pode existir, mas requer comprometimento diário e eterno.

Se aprofundar no exercício das virtudes é o maior aliado que qualquer pai e qualquer mãe pode ter. Em todas as fases.

A gente acha que o “Terrible Two’s” requer uma dose extra de paciência. Ai, chegamos aos 12 e percebemos que os dois anos são moleza.

Quando temos bebezinhos de colo e passamos dia e noite amamentando, sonhamos com nosso sono de volta.

Hoje, imagino como sentiremos saudade desses tempos quando eles saírem para “baladas”. E penso na saudade que invadirá nossos corações quando se casarem e não estiverem mais no café da manhã. Certamente sentiremos saudade das baladas, de quando voltavam para casa cheios de amigos e varavam a madrugada na cozinha conversando sobre a festa.

Filhos são a maior benção, assim como todas as fases são abençoadas.

Que a gente tenha sabedoria para se fazer presente mesmo quando estiver ausente. E que a gente tenha o dom de se fazer invisível deixando nossos valores carimbados no caráter deles quando for necessário.

Que a gente receba a graça de estar presente em todas as fases. “

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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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