Carta para uma grávida de uma mãe com algum tempo de maternidade

Carta para uma grávida de uma mãe com algum tempo de maternidade

Olá minha querida,

A primeira coisa que eu tenho para te dizer é: você é muito mais forte do que imagina! Nunca se esqueça disso!

Você está ai, prestes a ter o seu bebê, já comprou todos os apetrechos (quanta coisa né?), leu muito a respeito e está ansiosa para tê-lo em seus seus braços não é mesmo?

Gostaria, através dessa carta, que você pudesse vivenciar toda a minha experiência, meus erros, meus acertos, meus medos e entender como eu  consegui chegar a ter alguma segurança nessa tal de maternidade. Além disso, gostaria de poder te dar colo nos momentos difíceis e rir com você nos momentos de alegria. Mas na vida aprendemos e evoluímos somente com os nossos próprios erros e acertos, não tem outro caminho. Por isso, se com essa carta eu conseguir fazer você perceber a força que tem, e também fazer você entender, um pouco, sobre a tão falada, maternidade real, já vou me sentir muito feliz.

Queria muito que você me escutasse. Mesmo que eu não seja uma autora de um livro incrível sobre dicas e ensinamentos para mães, e que já vendeu milhares de exemplares. Gostaria muito que me ouvisse e me desse crédito mesmo eu sendo somente uma mãe que gostaria de ter lido isso quando estava grávida.

Sinto que eu já te conheço, sinto que sei exatamente como se sente agora: você anda lendo livros, escutando histórias sobre a maternidade e reparando em mães. Nas que tem inspiram, lógico, mas também naquelas mães “doidas” que andam por ai com seus filhos dando chiliques. Também sei sobre os seus pensamentos, e olha que não tenho bola de cristal. Seus pensamentos são: Nossa, que mãe é essa que não consegue controlar o próprio filho? Que mulher estressada! Será que ela não leu o livro que eu estou lendo? O livro fala tanto sobre limites e birra.

Então, é exatamente ai que eu queria chegar. A maternidade não é da maneira que imaginamos quando estamos grávidas. E posso te dizer? O mundo é realmente muito cruel, porque além de não nos dizer a verdade sobre ser mãe, fantasia algo de uma maneira tão linda que quando nos deparamos com a realidade, sentimos muita decepção. Assim como uma menina que não ganhou o presente que desejava no dia do aniversário.

Você deve estar pensando: que horror, ela deve ser uma mãe infeliz e que não gosta da maternidade. E eu te digo: não, não é nada disso. O que acontece é que após 9 anos nessa função, consigo dizer verdades que lá atrás não falaria de maneira alguma. Não falaria por me culpar de sentir o que a maternidade realmente me fez sentir, e não o que o mundo dizia que eu sentiria.

Minha querida, a maternidade vai vir com um turbilhão de sentimentos que você não pode imaginar. Você vai sentir sentimentos maravilhosos, é claro, mas vai sentir sentimentos nada maravilhosos também. Sim, a realidade vem a tona logo que nos deparamos com a maternidade. Aos poucos, a fantasia que a sociedade e a mídia criam sobre “ser mãe” desmorona em cima da nossa cabeça. E o pior, no momento em que estamos mais frágeis!

Então, nos momentos que você não estiver feliz sendo mãe, vai sentir culpa. Sim, uma culpa sem fim, que nesse momento tão delicado e novo, é uma das coisas que nunca deveríamos sentir.

Você vai sentir o peso gigante da responsabilidade de ser mãe nas costas, e detalhe, depois da maternidade “perfeita” ter desmoronado na sua cabeça. Além disso, por mais que o seu parceiro seja super, hiper, mega participativo e cumpra com o papel dele, você, muitas vezes, vai se sentir só. Sim meu amor, você vai ter um bebê nos braços e vai se sentir só, mais só do que jamais se sentiu. Os filhos levam anos para se tornarem, de fato, companhias para a gente. E mesmo que você tenha pessoas que te ajudem, quando o calo apertar é você que vai resolver. Já escutou aquela frase: quem pariu Mateus que o embale? Então, é bem isso.

Você vai se sentir doando, doando, doando e no dia seguinte vai ter que se doar muito mais. Você vai ter um sono sem fim e um desejo imenso de dormir a quantidade de horas que dormia antes de ser mãe. Você vai sentir muito medo de não estar fazendo a coisa certa! Vai se preocupar demais.

Você vai se achar um pouco E.T na hora que sair na rua.Vai sentir falta da liberdade que tinha antes de ser mãe, mas calma isso vai melhorar, eu prometo!

Você vai sentir um desejo enorme de ser “perfeita” no papel de mãe, e se não perceber logo que isso é uma tremenda furada, vai se frustrar muito e novamente vai sentir muita culpa! Por isso, por favor me escute: não existe mãe perfeita. Entenda, você é humana e vai errar muito no seu papel de mãe. E além de tudo isso, você vai sentir uma insegurança tão grande, mais tão grande que vai achar que não é capaz. Mas lembra da primeira frase da carta? Então, acredite em mim!

Ahhhh, e se ninguém te falou, você vai ficar menstruada por mais ou menos um mês após ganhar o seu bebê ( juro que só fiquei sabendo disso no hospital).

Porém, misturado com tudo isso, você vai sentir uma alegria sem fim de ver a carinha do seu filho. Vai sentir uma realização deliciosa de poder ver seus pais se tornarem avós e seus avós se tornarem bisavós, vai se emocionar com o crescimento e com cada coisa nova que o seu filho fizer.

Aí então, quando seu filho crescer um pouco, você vai perceber que não aproveitou nem 20% das dicas do livro mais lido sobre “ser mãe”, e que a sua força e o seu sexto sentido foram e continuam sendo os seus principais parceiros nessa caminhada chamada maternidade. E quando o seu filho fizer birra em um lugar público, e você perceber que tem uma grávida te observando, vai saber exatamente o que ela está pensando, mesmo sem ter bola de cristal, e imediatamente vai pensar: Ahhh, se ela soubesse como é ser mãe na prática, um dia ela vai entender!

A maternidade vai fazer você se colocar no lugar do outro, se sentir solidária com as mães que você tinha como “doidas” (pode acreditar), e vai te humanizar da maneira mais profunda que existe! E o maior segredo que eu posso te contar desse mundo é: não tem fórmula, cada mãe faz o melhor que pode!

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Thaís Vilarinho

Mãe de dois meninos lindos Matheus e Thomás, Fonoaudióloga Clínica. Pratico corrida e Muay Thai. Adoro escrever, viajar, escutar música, ver um bom filme, sair e estar com a família e os amigos. Sou curiosa, adoro conhecer e aprender coisas novas.

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4 Comentários

  1. Zilda Drummond - 24 de junho de 2016

    Thaís, como sempre os seus textos são realistas e quebram todos os protocolos já padronizados. Este texto é perfeito pois imaginamos um mundo colorido e fantástico ao engravidarmos e só descobrimos que nem tudo são flores ao chegarmos em casa com nosso bebezinho lindo nos braços. Sim, não é fácil!!! Mas com certeza ainda compensa muito esta experiência de sentirmos o maior amor do mundo!!! Parabéns!!! Excelente texto!!! Bjs.

  2. Lidiane - 24 de junho de 2016

    Tha…simplesmente perfeito! Se ser mãe fosse como uma receitinha de bolo, tudo seria mais fácil. Mas cada maternidade é diferente uma da outra. Pode ser tranquilo para umas, um pesadelo para outras, mas no final o que importa é a felicidade dos nossos pequenos! E assim nos realizamos e somos felizes, aprendendo a cada dia e a cada fase com nossos erros e acertos! Parabéns!!! Amei o texto!!

  3. Erika - 24 de junho de 2016

    Perfeito Tha! A maternidade como ela é! Com suas dorea e suas delícias! Não vem com manual de instrução e cada cabeça é uma sentença. Mas todas com o coração cheios de um amor inexplicável, fazendo de tudo prá acertar nessa missão impossível: ser mãe!!!

  4. Lorena - 24 de junho de 2016

    Bem isso… Importante acabar com o mito da maternidade perfeita. Nós, mães, evoluímos a cada nova experiência. Cada fase e cada filho nos trazem um novo olhar do melhor caminho a seguir.

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